quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Remexendo os baús (4) : as entrevistas


Em comemoração aos 10 anos do Todo Poderoso Google, o site resolveu brincar de voltar ao passado e colocar no ar uma busca que vai diretamente ao ano de 2001.

Como meu site Revista Eletricidade já estava "alive and kicking" naquela época, fui dar uma fuçada e encontrei algumas entrevistas que já saíram do ar e não estavam nem nos meus velhos arquivos, para começar dois grandes nomes do rock nacional for export: Ivan Busic, baterista da banda Dr Sin e André Matos, na época, vocalista da banda Angra.

Ivan Busic - Dr Sin Ao Vivo



Você já foi a um show do Dr Sin? Ainda não? Então agora você tem uma boa chance de saber o que está perdendo. É que a banda acaba de lançar seu primeiro CD ao vivo, intitulado Alive, o trabalho traz um pouco do peso e da qualidade musical que a banda sempre esbanja cada vez em que se apresenta. Fomos conversar com Ivan Busic, baterista do Dr Sin que nos contou um pouco mais sobre este novo trabalho.

Eletricidade: Fale um pouco sobre onde e como rolaram as gravações desse disco?
Ivan Busic: As gravações rolaram depois que a gente teve acesso aos equipamentos de ADAT, que além de ficarem no estúdio, também são móveis.
A gente começou a gravar alguns shows, desde a época do Aramaçã, e nós conseguimos coletar muitas músicas, só que a grande maioria, não que foi mal gravada, mas a execução não agradou muito.
Nós só ficamos felizes quando chegamos num consenso, mas até conseguir mixar e deixar do jeito que ficou, demorou. A gente gravou o Metropolitan, o show que a gente abriu no Olympia, o Imperator e também uns dois shows no interior.
Mas eu acho que o básico mesmo, acabou sendo o Metropolitan e o Imperator.

Eletricidade: Vocês tinham um monte de material na mão, como vocês fizeram para escolher esse repertório?
Ivan Busic: Demorou, bastante porque às vezes estava muito bem executado mas tinha algum problema de som na gravação, ou ainda tinha algum problema do jeito que a gente tocou mesmo, errou, então, não adiantava colocar, mas como tudo estava gravado em canais separados, teve a possibilidade de melhorar, cortar, então a gente teve boa chance de fazer o disco sair como nós queríamos.

Eletricidade: Vocês acham que tem alguma música que ficou faltando e que vocês não colocaram porque não tinha uma versão legal?
Ivan Busic: Várias, por exemplo, a gente gostaria de ter colocado "Silent Scream", mas nenhuma execução ficou como nós queriamos, a "Emotional Catastrophe" mais legal que tinha também, teve vários problemas, então tinha algumas outras e a gente acabou chegando nessa aqui, que é de um Olympia antigo que nós fizemos.

Eletricidade: Esse é o momento na opinião de vocês de lançar um disco ao vivo?
Ivan Busic: Eu acho que o disco ao vivo pode ser lançado a qualquer momento, tem gente que lança um disco de estúdio e o outro já é ao vivo.
Não sei, talvez o ideal fosse esperar mais para lançar, mas nós estamos considerando este disco mais como um link entre os três primeiros e o próximo, talvez a gente faça mais uns três em estúdio e depois outro ao vivo.

Eletricidade: Fale um pouco sobre os projetos que vocês tem com o pessoal do Heloween...
Ivan Busic: Ontem mesmo nós falamos com o Roland Grapow e em setembro ou novembro, nós vamos até lá ou ele vem até aqui para participar do novo disco de estúdio do Dr Sin.
Ele veio até aqui no estúdio na época em que esteve aqui e então pode conhecer melhor o nosso trabalho e se mostrou um cara muito amigo, a gente gosta bastante do jeito que ele toca e acima de tudo da pessoa dele, porque para falar a verdade, eu nem conhecia direito o Helloween. Ele é um cara super legal está a fim de participar e nós ficamos super empolgados e como ele vai ter umas férias até novembro, antes da tournê do Helloween, então a gente deve estar fazendo isso, mas dentro do Dr Sin mesmo.
Porque a princípio ía ser uma banda paralela nossa com o Michael Vescera, ele e o Eduzinho, depois mudou toda a idéia, então ele só vai participar do nosso disco.

Eletricidade: Quem produziu esse disco ao vivo, foram vocês?
Ivan Busic: Na realidade, teve muita gente envolvida, então acaba muita gente produzindo. Basicamente foi a banda, o Robson que é o técnico de som, que fez as mixagens e o próprio Gilberto, nosso sócio no estúdio fez a supervisão geral e ajudou a gente na escolha das músicas com mais qualidade.

Eletricidade: Como está a carreira de vocês no exterior?
Ivan Busic: Atualmente no exterior o que rola mesmo é a Ásia, não está rolando nada na Europa, nem nos Estados Unidos agora.
Os contatos e as gravadoras, está havendo até um desrespeito no jeito de tratar as bandas, não é que eu prefiro não lançar se eu não ganhar dinheiro, mas eu acho que tem que haver um mínimo respeito, sentir que a pessoa vai te dar algo em troca, que você vale algo para a gravadora. Você pode lançar o seu trabalho onde quiser, nos EUA, vai até lá, os caras vão vender, 1.000, 10.000 cópias e vai ficar nisso.
Eu prefiro aguardar o momento certo e a pessoas certas para trabalhar e dar o valor que a banda merece.

Eletricidade: Sempre que vocês tocam tem uma porção de músicos na platéia que está lá só para ver os erros. Eu sei que vocês sabem, mas isso incomoda vocês de alguma forma?
Ivan Busic: Acho que não, sempre vai ter aqueles músicos que vão assistir a gente, alguns que realmente querem ver o que a gente tem feito, apreciar algumas técnicas, e tem aqueles que tem ciúmes e até alguns com inveja, que vão lá, e ficam torcendo para que a gente erre, mas isso é normal, acho que às vezes a pessoa tem o direito de errar.
Principalmente quando a pessoa é nova, está começando a tocar ela passa por esse período de disputa, quem toca melhor, o meu guitarrista é mais rápido do que o seu, depois vai virando outra coisa, nós gostamos de ver que tem muitos músicos no show, porque enquanto tiver músicos é sinal que a gente ainda está tocando direito.

Eletricidade: E o próximo disco, o que podemos esperar?
Ivan Busic: A gente até deu uma parada de novo por causa de umas produções do estúdio aqui e o Eduzinho também está fazendo muitos workshops neste mês. Mas já tem umas treze músicas prontas, só faltam acabar algumas letras, é um estilo muito louco, mas seria um Heavy Metal fundido com progressivo, com um peso "extra-large". Está bem pesado, progressivo, melodioso, acho que vai ser o disco mais interessante do Dr Sin.
Vai chamar atenção tanto na parte musical, quanto na parte vocal e vai ser o mais legal.

Eletricidade: Vai ser uma coisa diferente de tudo o que vocês fizeram, ou vai ser alguma coisa na linha do Insinity, ou do Brutal?
Ivan Busic: Mais ou menos o Brutal, Insinity; é mais ou menos os nossos três CDs só que mais louco, mais maluco. As construções são mais complexas, os tempos que a gente está usando...
A gente sempre diz: - O Dr Sin é o que a gente gosta de fazer, esse disco assim é como se fosse uma diversão mesmo, a gente tocando, tudo o que a gente quer tocar, aqui é pesado, aqui é progressivo, vai ser um disco pesado e progressivo, uma mistura dos três com um pouco mais de adrenalina que os três juntos.

André Mattos - Fireworks



Num mercado que não lança nada de criativo há anos, que é o do Heavy Metal Melódico, a banda Angra tem se destacado como honrosa exceção, seu novo trabalho Fireworks, inova novamente trazendo uma sonoridade que evoca as raízes do movimento Heavy, o vocalista e compositor da banda, André Matos fala nesta entrevista exclusiva para a Revista Eletricidade um pouco sobre esta nova sonoridade.

Eletricidade: Vocês acabaram de voltar da Europa onde começaram o trabalho de divulgação do novo disco, como foi a recepção por lá, já dá para ter uma idéia da performance do novo trabalho?
André Matos: Nós estivemos na Europa e no Japão, fizemos divulgação de uma maneira geral e a repercussão foi muito grande, principalmente por parte da Imprensa, recebemos as melhores críticas possíveis, também dos fãs , quer dizer, todo o pessoal que já ouviu o disco praticamente vem para a gente e diz que gostou realmente do disco.
E isso a gente pôde ver na realidade com o lançamento do disco em Paris, íamos fazer uma sessão de autógrafos na Virgin Megastore onde se esperava algo como 300 pessoas e no final tinham 1.300. Tivemos uma bela receptividade e já começamos a tocar por aí: no Brasil já fizemos quatro shows e estreamos dois shows na Argentina.

Eletricidade: E sobre o Japão, vocês acham que a crise econômica dos países asiáticos pode vir a afetar o trabalho de vocês por lá?
André Matos: Não só nós, mas qualquer banda, uma banda que vendia 100 mil cópias agora vende na faixa de 70 (mil cópias). Enquanto a crise não desaparecer vai continuar essa redução do mercado de uma maneira geral, mas a gravadora estava muito preocupada em manter o ritmos das coisas, por isso levou a gente para lá de novo para fazer divulgação e fez um belo trabalho.
A gente está indo para o Japão em Dezembro também para tocar, vamos fazer quatro concertos lá e depois na Europa a gente deve fazer quarenta concertos em Janeiro e Fevereiro.

Eletricidade: No novo trabalho Fireworks vocês buscaram intencionalmente um certo afastamento da tecnologia que dominava o disco anterior Holly Land, por que? Vocês neste sentido não têm medo de estar remando contra a maré do mercado que dita coisas cada vez mais eletrônicas e tecnológicas?
André Matos: Foi exatamente essa a intenção porque a gente com o Holy Land utilizou as técnicas de gravação mais modernas possíveis e enfim foi um disco que precisou realmente disso porque é um disco muito complicado, muito rico para se trabalhar e com Fireworks a gente já tentou simplificar bem mais as coisas e exatamente o que estava fazendo falta para a gente era essa sonoridade mais antiquada, então por isso a gente optou por uma técnica de gravação que não é necessariamente a mais moderna, quer dizer... fitas de rolo, analógico e tocando com instrumentos antigos... Isso trouxe para o disco uma característica bem especial, ele ficou bem diferente daquilo que se esperava, mas ao mesmo tempo nós ficamos super satisfeitos porque remeteu muito à sonoridade dos grupos que nos influenciaram.

Eletricidade:Quanto ao repertório do Angra, no disco anterior vocês chegaram a ser bastante criticados por alguns daqueles fãs mais radicais que não costumam aceitar muito bem a incorporação de outras influências ao Heavy Metal, como vocês lidam com esta fatia do público? Este radicalismo acaba influenciando na escolha do repertório do disco e dos shows?
André Matos: Não, na verdade isso não aconteceu, inclusive se você reparar bem tem uma música no disco que se chama "Gentle Change" que poderia estar no Holy Land, e nós fizemos questão de colocá-la para mostrar que continuamos fiéis a uma coisa que descobrimos e que a gente apoia, enfim, a decisão de fazer o Holy Land do jeito que ele era foi muito importante na carreira da banda porque estabeleceu um estilo, antes disso, todo mundo comparava o Angra ao Helloween, ao Iron Maiden e depois do Holy Land ninguém compara com mais ninguém: é o Angra.
E agora a gente se sente exatamente na liberdade de poder misturar as duas coisas, então tem coisas que são herança do Holy Land, vamos dizer assim, como tem coisas que são herança do Angel's Cry , e tem coisas que são novas e isso não pressionou a gente para escolher o repertório do disco e tampouco pressiona para a gente escolher o repertório de shows. A gente toca muito as músicas antigas também... eu acho que é uma fatia do público que vai também apreendendo algumas coisas com o tempo, e muita gente que "metia o pau" no Holy Land no começo, fala que hoje ama o disco, é o que eu tenho visto por aí. E talvez seja um disco que demore alguns anos para ser entendido na sua totalidade, por isso eu acho que qualquer tipo de crítica mais precipitada, deve ser levada em consideração, mas não tão completamente a sério, porque muita gente muda de opinião depois de um tempo

Eletricidade:Vocês gravaram no estúdio Abbey Road, como é que rolaram as gravações por lá? Deu tempo de fazer aquela foto tradicional atravessando a rua que todo mundo que vai prá lá acaba tirando?
André Matos: Sabe porque não deu tempo, porque eu não descobri aonde era a esquina... (Risos)
Eu bem que procurei a tal da esquina, mas ela não fica em frente ao estúdio sabe... alguém falou: - não, é mais para lá...não deu tempo porque eu tinha que gravar e acabei não indo na esquina dos Beatles, mas gravei na mesma sala que eles e isso foi uma puta emoção... uma coisa que a maioria dos músicos desejaria vivenciar, o estúdio tem uma atmosfera, tem um clima todo especial, e é com muito orgulho que a gente bota isso no disco: Gravado no Abbey Road, é uma coisa que adicionou muito ao disco.

Eletricidade: Chris Tsangarides o produtor de Fireworks é um nome já tradicional do Heavy Metal, faz quase parte da história deste gênero, como é trabalhar no estúdio com este tipo de produtor, a banda deu carta branca a ele ou vocês acabaram querendo colocar a mão na massa e dando palpite sobre este ou aquele aspecto da gravação?
André Matos: Foi muito tranqüilo trabalhar com o Chris, ele não mexeu muito nos arranjos das músicas, a preocupação maior dele foi com o som e foi nesse ponto que a gente "casou" bastante, quer dizer, a gente pôde compor livremente e ele se preocupou em conseguir uma sonoridade de alta qualidade profissional, que a gente desejava mesmo. Foi uma química legal que rolou entre a gente e ele gostou muito de trabalhar com a banda também, foi uma boa experiência.

Eletricidade: Como é o processo de composição de vocês, vocês preferem ouvir tudo o que cair nas mãos ou se isolar para não haver nenhuma interferência externa?
André Matos: Do meu ponto de vista pessoal eu não ouço nada, eu tenho tempo de ouvir antes disso, mas na hora que eu começo a compor eu prefiro não me influenciar por nada e deixar sair as idéias que já estavam rolando.
Não é que eu seja radical: - Não vou ouvir mais música! Mas eu não procuro ouvir música com o intuito de me inspirar. Acho que inspiração é uma coisa que ou você já tem na sua cabeça, ou ela não pinta dessa maneira.

Eletricidade: O Mercado de CDs pirata vêm crescendo assustadoramente no Brasil, na opinião de vocês existe alguma solução para este problema?
André Matos: É difícil dizer porque num sistema executivo, que é a Polícia no caso, deficiente como a nossa, não tem condições de controlar isso, fica muito difícil e então.. eu li numa revista outro dia: "CD PIRATA: DENUNCIE SE VOCÊ VIR!!! "
Bem, você pode denunciar, mas você não tem garantias de alguém vai lá pegar, e tem outra coisa, vamos falar a verdade: a culpa não é do coitado do cara que está vendendo CD Pirata na rua, esse cara vendia... sei lá, relógio por 10 reais e de repente descobriu que vender CD Pirata dava mais dinheiro, então ele foi vender, e é um cara que está com fome e precisa vender alguma coisa para sobreviver porque o nosso país também não dá condições para quem está por baixo, sem emprego. Não é esse cara que a gente tem que pegar, tem que pegar os caras que fabricam que são os piores porque não é o camelô que vende alguns, ele é pequenininho, mas o dono da fábrica de CD Pirata que é o grande vilão da história.
Eu comparo isso ao tráfico de drogas...o traficante de rua não é o cara que faz um grande mal, mas o cara que está comandando o tráfico é o grande mafioso, então na minha opinião acho que a Polícia ou a Fiscalização ou sei lá quem, deveria se preocupar mais em descobrir do mesmo jeito que se preocupa em descobrir aonde estão os traficantes onde estão as matrizes destes CDs Piratas. E isso é de interesse de todo mundo; é do interesse dos músicos, é do interesse das gravadoras, até mesmo do público porque um CD Pirata não é da mesma qualidade que um CD normal, você nunca vai comprar um CD que tenha as letras, num acabamento igual...

Eletricidade: É uma judiação porque agora que a Indústria Brasileira está chegando ao ponto de publicar a letra, de fazer uma coisa legal....
André Matos: Exatamente... Fazer uma impressão igual ao que tem lá fora, caixinha transparente...
De repente isso aí "ferra tudo" porque, é claro, um CD custa "vinte paus" e você compra um por cinco e é um problema para os músicos, porque pára de arrecadar, pára de fazer a "máquina rodar" e vai chegar a um ponto em que os músicos não vão ter mais condições de trabalhar.

Eletricidade: E falando em mercado brasileiro, na sua opinião, o gosto (ou mau gosto) musical do público é reflexo da situação econômica do país?
André Matos: Não, porque eu conheço vários países lá de fora que tem o mesmo "mau gosto", tipo: EUA, Alemanha, Japão, o que vende mais nesses países também é a musica de péssima qualidade, então eu não acredito que seja reflexo da economia.

Eletricidade: De uma certa forma a gente consegue perceber a evolução do Angra de um disco para o outro, qual a opinião de vocês sobre aquelas bandas que continuam paradas no tempo e no espaço, como o Iron Maiden, por exemplo?
André Matos: Acho que são bandas que preferem apostar no que é certo e não arriscam, então eu por exemplo pessoalmente falando como ouvinte, como fã já parei de escutar Iron Maiden há muito tempo.
Eu parei quando eles lançaram o "Seventh Son of a Seventh Son", daí em diante não me agradou mais.

Eletricidade: Quais são os planos do Angra para o Brasil, quando sai a próxima tournê? E se você puder dar as datas para gente...
André Matos: É claro, nós já começamos a tocar no Brasil, já fizemos dois shows no Paraná, um em Manaus, um em Belém, fomos para a Argentina e fizemos dois shows em Buenos Aires; e continuamos com a tournê, até o final de Novembro nós estamos tocando no Brasil, você pode descobrir aonde estão as datas pelo site da banda porque eu não tenho na cabeça todas, até o final de Novembro tem várias, mas uma importante é em São Paulo, dia 16 de Novembro no Olympia, vai ser o grande lançamento do disco.

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2 comentários:

  1. Entrevistas com dois caras de duas bandas que tocam muito. Fantastico a qualidade do som de cada uma.

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  2. Oi Alexandre,
    Obrigada pelo comentário e pela visita!
    Eu também gosto muito do trabalho deles.
    Abraços,
    Drika

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Obrigada pela visita!