sexta-feira, 30 de abril de 2010

Sob a sombra do Mestre - 30 anos sem Alfred Hitchcock



Ele sempre fez as coisas de uma forma diferente e já chamava atenção por seu estilo único com seus primeiros filmes mudos realizados na Inglaterra, na década de 20. Mais tarde, já trabalhando em Hollywood, seus filmes fariam escola influenciando todo o cinema que se fez desde então e mais especialmente remoldando completamente o suspense.

Não é por acaso que o mundo inteiro refere-se ao cineasta como mestre, Alfred Hitchcock levou a arte de assustar o público a um outro patamar. Com uma extensa obra de 67 filmes, quando morreu em 1980, sem nunca precisar cair no terror explícito, o diretor criou algumas das cenas mais assustadoras da história do cinema.

Começando sua carreira em 1922, com o filme "The Number 13", que não chegou a finalizar e ainda permanece inédito; o cineasta mudou-se para os EUA em 1939 e lá fez seus filmes mais consagrados como "Janela Indiscreta" (Rear Window - 1954), "Um Corpo que Cai" (Vertigo - 1958) e "Psicose" (Psycho - 1960).

Menos populares, mas não menos geniais "Rebecca" (1940), "O Correspondente Estrangeiro" (Foreign Correspondent - 1940) e "Quando Fala o Coração" (Spellbound - 1945) são apenas alguns exemplos de uma fase brilhante de sua obra que costuma ser deixada de lado, muito mais por serem filmes mais antigos, ainda em preto-e-branco e bem mais difíceis de encontrar nas locadoras.

E falando nestes filmes mais antigos, algumas produções da chamada fase britânica de Hitchcock foram refeitas nos EUA, como “O Homem que Sabia Demais (The Man Who Knew Too Much - 1934), que recebeu uma nova versão homônima em 1955 estrelada por James Stewart e Doris Day.

Os atores que participam dos filmes de Alfred Hitchcock merecem um capítulo a parte em sua obra. Existe uma lenda que o mestre tratava muito mal seus atores e atrizes, mesmo assim, grandes nomes do cinema estrelaram os filmes do cineasta como Cary Grant, James Stewart, Gregory Peck, Rod Taylor e Ray Milland, mas sua escolha por belas atrizes acrescentaria mais uma polêmica a sua lenda, a de ter fetiche por mulheres louras e gélidas como Grace Kelly, Ingrid Bergman, Tippi Hendren e Janet Leigh.

Como todo gênio, Hitchcock também tinha sua dose de excentricidades, uma delas adicionou a seus filmes uma atração extra, a de encontrar a cena em que o diretor faz sua aparição, sempre sem falas e de forma muito criativa, que funcionava como uma espécie de assinatura, o mestre pode ser visto perdendo um ônibus em "Intriga Internacional" (North by Northwest - 1959) ou passeando com cãezinhos logo nas primeiras cenas de "Os Pássaros" (The Birds - 1963).

Muitas coisas que se vêem em filmes de outros cineastas importantes como Brian de Palma, Francis Ford Copolla e até Steven Spielberg foram influenciadas por sua maneira peculiar de filmar e até mesmo o uso que fazia da música para marcar suas cenas mais assustadoras acabaria tornando-se algo muito presente no suspense desde então.

E às vezes esta influência vai mais além, para se ter uma ideia, basta dizer que no ano de 2008, a produtora Dreamworks de propriedade de Steven Spielberg chegou a ser processada pelos herdeiros de Alfred Hitchcock por plágio, dadas as inúmeras semelhanças entre o filme Paranóia (Disturbia - 2007) e Janela Indiscreta.

O que não dizer de outro caso marcante o do diretor Brian de Palma que na década de 80 fez em "Dublê de Corpo" (Body Double-1984) inúmeras citações muito claras aos maneirismos do mestre, conseguindo como resultado um excelente thriller considerado até hoje um dos melhores filmes do diretor.

Até no recente “A Ilha do Medo” (Shutter Island - 2010), do diretor Martin Scorsese podem ser encontrados ecos muito claros da obra do mestre, seja na utilização da música ou em citações mais explícitas dos grandes clássicos do diretor. Além disso, o filme tem como seu tema principal um medo que nem os personagens, nem os espectadores conseguem definir; o exato "ingrediente" psicológico favorito de Alfred Hitchcock.


Alfred Hitchcock Filmografia:


1922 The Number 13 (inacabado e inédito)
1925 O Jardim dos Prazeres
1927 O Inquilino
1927 O Ringue
1928 Champagne
1928 A Mulher do Fazendeiro
1928 Easy Virtue
1929 Carta Negra
1930 Assassino !
1931 The Skin Game
1932 Nº 17
1933 Rico e Estranho
1934 O Homem que Sabia Demais
1934 Valsas de Viena
1935 OS 39 Degraus
1936 Sabotagem
1936 Agente Sereto
1937 Jovem e Inocente
1938 A Dama Oculta
1939 Estalagem Maldita
1940 Rebecca
1941 O Casal Smith
1942 Suspeita
1942 Sabotador
1943 A Sombra de uma Dúvida
1946 Interlúdio
1948 Festim Diabólico
1949 Sob o Signo de Capricórnio
1951 Pacto Sinistro
1953 Eu Confesso
1954 Disque "M" Para Matar
1954 Janela Indiscreta
1955 Ladrão de Casaca
1955 O Terceiro Tiro
1956 O Homem que Sabia Demais
1956 O Homem Errado
1958 Um Corpo que Cai
1959 Intriga Internacional
1960 Psicose
1963 Os Pássaros
1964 Marnie, Confissões de uma Ladra
1966 Cortina Rasgada
1969 Topázio
1972 Frenesi
1976 Trama Macabra

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Video de Plundered in my Soul cai na rede



A maior banda de rock do mundo, os Rolling Stones sempre surpreendem, seja lançando material novo ou como neste momento, revirando e dando um tratamento tecnológico aos clássicos do passado.

Já se sabe que o aguardadíssimo pacote de relançamento do disco "Exile on Main Street" de 1972 vem cheio de músicas que "sobraram" nas seções de gravação do disco, que por sinal é considerado a melhor coisa que a banda fez em seus 48 anos de carreira.

Mas a boa notícia é que estas "velhas novidades" estão chegando aos ouvidos do público e mais uma vez batendo recordes de venda e aceitação.
Contrariando até mesmo as máximas da indústria que pregam a morte do mercado fonográfico, o single de "Plundered in my Soul" lançado no dia 17 de abril, nos formatos CD e vinil, esgotou-se em poucas horas e levou a banda a ocupar a segunda posição no ranking de vendas da revista especializada Billboard.

O que aumenta consideravelmente as expectativas para a vendagem da reedição de "Exile On Main Street", que chega às lojas do mundo inteiro no dia 18 de Maio.

Com todas as faixas originais e mais 10 extras o disco será lançado em formatos variados para todos os bolsos, incluindo versões especiais numeradas para colecionadores que incluem livros de fotos e um documentário especial sobre as gravações editado em DVD.

Enquanto "Exile On Main Street" não chega às lojas, podemos ter uma pequena amostra do material inédito no vídeo oficial do single "Plundered in My Soul", que já está no Youtube.

domingo, 11 de abril de 2010

Chico Xavier humaniza o mito



O letreiro apresentado na abertura da cinebiografia de Chico Xavier dá uma pista sobre o que estamos prestes a assistir quando afirma que a vida de um homem não cabe em apenas um filme.

A do biografado com certeza não caberia, foram mais de 90 anos dedicados ao próximo, com um amor e uma doçura pouquíssimas vezes vistas em um ser humano, que as circunstâncias e a obra extensa, de 400 livros psicografados, acharam de mistificar e praticamente santificar; mas que o cinema aqui, opta por humanizar.

O filme de Daniel Filho, baseado no livro "As Muitas Vidas de Chico Xavier" de Marcel Souto Maior, adaptado excepcionalmente por Marcos Bernstein, pinta um retrato sobretudo humano do mito, usando como linha condutora uma apresentação dele ao vivo, no Programa Pinga-Fogo, uma espécie de ancestral do Roda-Viva, que no início da década de 70 criou polêmica ao tentar desmascarar o médium em rede nacional e não conseguir, mesmo sabatinando-o por mais de 3 horas seguidas, estourando completamente sua duração habitual de apenas 1 hora.

A produção então leva o espectador até a infância difícil de Chico (Matheus Rocha), a morte da mãe (Letícia Sabatella), as torturas da madrinha (Giulia Gam) e as vozes que já não o deixavam em paz, "em seu canto" como ele mesmo deseja em sua conversa com o simpático Padre Scarzelo (Pedro Paulo Rangel).

O garoto cresce e o ator Angelo Antonio assume o personagem e ajuda a mostrar algumas de suas características mais fascinantes, a batalha incansável pelo próximo, quando literalmente trabalha até os olhos sangrarem e mais tarde a expulsão da casa de sua família pela confusão que seu trabalho de filantropia causava; em uma das cenas mais emocionantes do filme em que contracena com a atriz Carla Daniel.

E o primeiro encontro de fato com Emmanuel (André Dias), o guia espiritual que o acompanhará por toda a vida.

Mas das três fases retratadas da vida de Chico, a melhor e mais impressionante é a terceira; já na década de 70, quando é interpretado brilhantemente por Nelson Xavier, como um homem que fisicamente começa a aparentar a fragilidade física que caracterizou as últimas décadas de sua vida.

Além dos problemas de saúde aparecem mais umas tantas facetas humanas, o medo de morrer, responsável por um dos momentos mais divertidos do filme, a vaidade, o bom humor, enfim, qualidades e defeitos que costumamos negar com facilidade aos mitos.

E para não deixar de fora alguns fatos importantes que comprovam a relevância de Chico na própria história do país, Daniel Filho optou por incorporar às tantas histórias reais da vida do médium, uma ficção que sintetiza algumas das que ficaram mais notórias: as polêmicas absolvições de réus baseadas em mensagens das vítimas psicografadas por Chico.

Orlando (Tony Ramos), um ateu ferrenho, combate a crença da esposa Glória (Cristiane Torloni) no médium, até que lê com seus próprios olhos uma mensagem do filho morto em um acidente com arma de fogo e a leva ao tribunal ajudando a inocentar o acusado pela morte de seu filho.

Uma chance para conhecer melhor um personagem que foi acima de tudo um exemplo de vida que deveria ser seguido com uma maior frequência, por todos os seres humanos, independente de religião e origem.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Dupla Implacável - Já não se fazem mais filmes de espião como antigamente



O final da Guerra Fria quase enterrou completamente um estilo bastante popular dentro do gênero filmes de ação; os chamados filmes de espionagem. Eles faziam a alegria de um grande público que podia curtir roteiros mirabolantes, com altas doses de adrenalina onde sempre os bons venciam os maus, não importando nem um pouco a desigualdade da luta.

O exemplo mais óbvio deste estilo, a série James Bond, com seus 27 filmes, muitos dos quais apresentando o herói britânico cercado por inúmeros inimigos, desarmado e prestes a morrer, quando repentinamente algo fisicamente impossível de acontecer do lado de cá da tela, mas comum do lado de lá, o salva e devolve a ordem ao mundo.

Mas vivemos outra época e o "bicho-papão" a ser derrotado não é mais o comunismo e seus soldados bem treinados, mas meio bobões, que sempre apanhavam muito no final.

Que o diga o personagem principal de "Dupla Implacável", James Reece (Jonathan Rhys Meyers), um novato no trabalho da agência, colocando ainda microfones em salas da embaixada e trocando placas de automóveis para tirar pessoas importantes de possíveis situações embaraçosas, o rapaz ainda não viu nenhuma ação real de espionagem, em um mundo em que segurança antiterrorismo tornou-se a razão de viver da agência para quem trabalha secretamente, enquanto publicamente aparece como um simples funcionário da embaixada americana em Paris.

Mas tudo muda quando vai buscar no aeroporto Charlie Wax (John Travolta) a pedido da Agência. Agente veterano, Wax faz o tipo que atira primeiro e depois faz as perguntas, deixando um rastro de sangue e de balas por onde passa, ora atirando em chineses traficantes de drogas, ora detonando uma célula de terroristas árabes em um prédio decadente dos subúrbios parisienses, ora perseguindo mais alguns árabes em alta velocidade com uma bazuca.

A relação entre os grupos talvez faça sentido apenas para o roteirista, mas tudo é muito rápido, sangrento e barulhento. Dirigido por Pierre Morel que fez recentemente o também mega-violento "Busca Implacável" (2008), o filme é para quem ainda consegue divertir-se com histórias sobre valentões patriotas que só param de atirar para apreciar um hamburguer bem americano, tirado de um saquinho de papel, no meio da madrugada em Paris.

Claro que uma boa parte da graça está em observar John Travolta divertindo-se com seu personagem imprevisível e boca suja. Careca e de cavanhaque, visualmente o ator parece muito mais outro "fora-da-lei" do que o herói que está lá para salvar o mundo mais uma vez.

Por estas e por outras, imagino o que o bom e velho James Bond não diria sobre estes agentes secretos de hoje em dia, capazes do sacrilégio de trocar a magnífica culinária francesa por um mero hamburguer... Ianques, bah!...