De cabo a rabo

Um dos argumentos mais fortes de quem defende o download direto de músicas pela internet é o de que muitos discos têm só uma ou duas músicas boas e o resto é totalmente descartável, portanto seria muito mais interessante, e econômico, poder comprar somente as faixas que realmente interessam, ao invés de pagar pelo disco todo.

Talvez por isso tanto nos EUA como na Europa, os singles sempre fizeram tanto sucesso. Com poucas faixas, em geral só a música de trabalho e mais algum outro material, estes disquinhos sempre venderam muito e por serem baratinhos, eram uma alternativa para quem gostava só de uma ou duas músicas daquele novo disco.

Enquanto isso, no Brasil, o conceito do single nunca foi bem aproveitado, lojistas e gravadoras metidos a espertos tentavam vender os discos com 3 ou 4 faixas pelo mesmo preço do álbum completo e acabavam com um tremendo encalhe nas mãos, culpando o Governo, a pirataria e sabe-se mais quem por sua própria burrice.

Mas para desafiar um pouco esta regra das duas ou três faixas boas e mostrar que ela também tem suas exceções, começo a fazer uma lista rápida, usando alguns discos da minha coleção particular, que são bons da primeira à última faixa.


Wandering Spirit (93) - Mick Jagger

Os críticos costumam ser impiedosos quando se trata da carreira solo de Mick Jagger. Para eles, o cara só merece algum crédito quando está trabalhando com sua banda.
Concordo parcialmente com isso, mas discordo completamente de quem vier para falar mal de Wandering Spirit.
Nascido das férias pós retorno dos Stones ao cenário com o disco Steel Wheels, “Wandering Spirit” é perfeito.
Produzido pelo próprio Mick e por Rick Rubin, o trabalho mostra todo o ecletismo de Jagger, variado em estilos, tem a participação especial de Lenny Kravitz, na versão mais sexy que a música “Use Me” já teve e pérolas como “Don’t Tear Me Up” e “Angel in My Heart”.
Mas o ponto alto deste disco é uma canção country, chamada “Evening Gown”. Pena que ele não fez muitos shows com este repertório.

Talk is Cheap (88) – Keith Richards

Já que falei de um disco solo do Mick, vou falar também de um disco do Keith. Esse é mais antigo e segundo o próprio, só foi feito porque ele achou que os Stones tinham terminado.
É uma longa história, mas lá por 86, os Stones se separaram e ninguém em sã consciência apostaria no retorno que acabou acontecendo, mas só no finzinho da década, em 89.
Bom, nestes 3 ou 4 anos de separação, Mick Jagger e Keith Richards pareciam mais um casal de famosos que acabou de se divorciar: usando a atenção da imprensa para “lavar a roupa suja” e tudo indicava que não existiam mais chances de reconciliação.
Então, Keith fez Talk is Cheap, que é uma obra prima. Com som sujo e produção descuidada, o disco é uma pequena e surpreendente obra-prima e traz o guitarrista em seu ápice.
E para quem gosta de fofoca, a faixa “You Don’t Move Me” é um recado direto para Mick Jagger.

Continua

Posts Relacionados por Marcador