quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O Guardador de Rebanhos - Cântico XXXIX

O mistério das coisas, onde está ele?
Onde está ele que não aparece
Pelo menos a mostrar-nos que é mistério?
Que sabe o rio disso e que sabe a árvore?
E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso?
Sempre que olho para as coisas e penso no que os homens pensam delas,
Rio como um regato que soa fresco numa pedra.

Porque o único sentido oculto das coisas
É elas não terem sentido oculto nenhum,
É mais estranho do que todas as estranhezas
E do que os sonhos de todos os poetas
E os pensamentos de todos os filósofos,
Que as coisas sejam realmente o que parecem ser
E não haja nada que compreender.

Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos: —
As coisas não têm significação: têm existência.
As coisas são o único sentido oculto das coisas.

Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)

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Um comentário:

  1. Faz muito bem ler Alberto Caieiro (FP) numa virada de ano.

    Um belo sopro de ânimo para uma no que virá cheio de mentiras e sacanagens!

    O ânimo que precisamos antes da luta para tornar o ano melhor.

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