segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Life - Sob a ótica de uma fã dos Stones



Já escrevi uma matéria para a Revista Eletricidade falando de "Life", a autobiografia de Keith Richards, mas lá quem fala é a repórter, que relata aos seus leitores o que leu utilizando ao máximo a tal da isenção, tentando guardar no armário, a fã desesperada para outra ocasião.

Mas aqui, no blog, a fã volta a ocupar seu lugar e assim, pode contar o que leu e sentiu enquanto percorria as tais quinhentas e tantas páginas.

Em primeiro lugar, para alguém que se apaixonou pela banda em 1989, ao ouvir a balada "Almost Hear You Sigh" e a partir daí começou a colecionar tudo o que estivesse ao seu alcance sobre a banda, vídeos, entrevistas, revistas, recortes de jornais, livros, enfim, tudo, até que em 1995, pude vê-los pela primeira vez ao vivo, no até agora imbatível melhor show que vi na vida.

Mas, para não me perder por aqui, e voltar ao livro, já vi tantas entrevistas de Keith, que minha mente me pregou uma peça, ao ler o livro, no original em inglês, passei a vê-lo na minha sala, cigarro no canto da boca, em seu jeito "malandro-pirata" de ser, narrando cada um dos episódios de sua vida.

E aí, o livro para mim, tomou novas dimensões... passou a ser uma espécie de amigo imaginário e mesmo já conhecendo uma boa parte daquilo que ele narrava, era como estar escutando um velho amigo contando suas aventuras e desventuras.

Com uma sensibilidade inesperada, ele conta no livro o quanto se frustrava com a imagem da banda no início do sucesso; afinal ele havia largado tudo primeiro para aprender a tocar a música dos mestres do blues como Muddy Waters, Howling Wolf, Robert Johnson e as menininhas nem ouviam o que eles estavam tocando, gritando desesperadamente, o que dava a banda mais ou menos uns 10 minutos de show, até que invadiam o palco e tudo terminava em correria.

Ou seja, o sonho dourado de todo músico, de ser amado pelos fãs, para os Rolling Stones era um pesadelo que trazia mais preocupação com saber onde ficavam as saídas por onde escapariam das tais adolescentes malucas, do que com a setlist que eles tocariam.

Ao mesmo tempo, o que ele queria era "cruzar os trilhos", que na linguagem dele significava ir até os bairros negros dos EUA e tocar com as pessoas que ele passou a vida admirando, o fã que se transforma em aluno, aproveitando a ocasião para ser uma pessoa comum e não o guitarrista famoso da banda que está em primeiro lugar nas paradas, mas o "carinha" que quer aprender como tirando uma das cordas da guitarra e fazendo uma afinação especial, ela passará a soar como a dos mestres que ele tanto admirava.

Também descobri o quanto ele podia ser doce com as fãs, que eram tão ameaçadoras naquele início, narrando um episódio em que convidou um grupo delas que cercavam o hotel onde estava vivendo, para protegê-las de uma tempestade.

Claro que aconteceram as drogas, as armas, os acidentes de carro, as loucuras com as groupies e os tipos estranhos que cercavam a banda, mesmo assim fiquei com a impressão de que Keith é um maluco do bem, cujo uso de drogas tinha a finalidade de tentar isolar-se do ambiente louco que o cercava, aliás ele repete isso várias vezes no livro, queria distanciar-se do furacão ao seu redor, para reencontrar-se com seu próprio caminho.

A relação com Mick Jagger é um capítulo a parte... em algum ponto do caminho, segundo Keith, Mick passou a acreditar nos elogios e passou a achar que a banda era só um veículo para a sua arte.

Ao mesmo tempo, Keith estava mergulhado nas drogas e não tinha condições de colocá-lo de volta em seu lugar, mas quando ele resolveu retomar sua posição, Mick já tinha virado um cantor solo, deixando os Stones para trás... daí, a reação de Keith de considerar tudo uma traição.

Mas a traição fez bem ao Keith, fez com que ele quisesse melhorar, empurrando as drogas para longe e rendendo para nós, os fãs, seus discos solo "Talk is Cheap" e "Main Offender", duas obras primas.

Além disso, não deixa o Keith ouvir, mas graças ao Mick a banda passou a cercar-se de uma estrutura profissional grande, que permite que ela leve seus shows ao vivo a lugares mais distantes, como o Brasil... por exemplo...

Mick transformou os Stones em uma lucrativa S/A, mas a banda não seria nada sem sua alma, que é Keith. Aliás, se o rock n' roll de repente se transforma-se em uma pessoa, ele seria Keith Richards.

Enfim... Keith é uma figura apaixonante e depois de terminar o livro, quero voltar a ele outras vezes, não para entender melhor alguma passagem que tenha ficado para trás, mas por estar com saudades da sensação de proximidade de um dos meus heróis de sempre, maior ainda no meu coração depois de conhecê-lo melhor.

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Um comentário:

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