quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Remexendo os baús (3): resenhas de shows


Acabou o Carnaval! Até que enfim, agora o ano começa!
E aproveitando que ele ainda não começou, mais uma revirada no baú de velhas resenhas da Revista Eletricidade, mas desta vez de uma outra seção, a dos shows ao vivo.
Gostaria muito de ainda ter acesso a textos bem mais antigos, escritos entre 98 e 02, se eles "sobreviveram" às muitas formatações do HD, devem estar no computador antigo, onde começou a história da revista.
Uma vontade que sempre tive foi a de deixar no ar todos os textos que já foram escritos, dá trabalho, mas acredito que é uma boa maneira de ver o quadro completo e suas mudanças através dos tempos.
Enquanto a disponibilização do arquivo não chega, convido meus leitores a "dar um passeio" por alguns shows do ano de 2002:

PARALAMAS DO SUCESSO - 15 DE DEZEMBRO DE 2002- CREDICARD HALL - SP

A espera foi longa, o caminho de volta penoso e ninguém conseguia, no início dele, antever o que iria acontecer no final. Mas agora parece que esse longo caminho no escuro terminou, e no final do túnel havia bem mais do que apenas luz.

O retorno aos palcos dos Paralamas do Sucesso e a recuperação quase milagrosa de seu líder Herbert Vianna talvez seja a melhor notícia que os "Deuses" da música nos deram neste complicado ano de 2002.

Com um novo trabalho em seu currículo, composto antes do acidente, mas gravado com maestria após a recuperação de Herbert, a banda volta finalmente a estrada, deixando para trás um fantasma que afligia o grande público conquistado pela banda em seus vinte anos de carreira.

Abrindo com "Calibre", a banda opta por ficar sozinha no palco durante toda a primeira parte do show, os músicos de apoio das tours anteriores dos Paralamas, como o tecladista João Fera, o naipe de metais e o percussionista Eduardo Lira, só entram no palco a partir da metade do espetáculo.

O repertório resgata músicas antigas como "Mensagem de Amor" e "Assaltaram a Gramática" e as mescla, em pé de igualdade com as novidades do álbum "Longo Caminho". A reação do público que lotou o Credicard Hall é emocionada e emocionante. Herbert Vianna conversa com a platéia, brinca e mostra que está realmente muito bem. Chega até mesmo a "puxar" toda a banda em covers de Police, The Jam e UB40.

Como guitarrista, continua arrancando muitos aplausos com seus solos em clássicos "paralâmicos" como "Lanterna dos Afogados". No final do show, rostos felizes no palco e fora dele denunciam que a noite foi vitoriosa e que uma das melhores bandas brasileiras de todos os tempos retoma seu merecido lugar ao sol. Sejam benvindos Paralamas, a casa continua sendo de vocês!


BILL BRUFORD - 26 DE SETEMBRO DE 2002 - DIRECTV MUSIC HALL - SP


Foi uma longa espera, depois de 35 anos de carreira, dezoito deles como o melhor baterista do Rock Progressivo em bandas como Yes e King Crimson; Bill Bruford finalmente chega ao Brasil para mostrar sua maior paixão musical: o Jazz.

O público que lotou o Directv Music Hall, nos minutos que antecederam a apresentação, não parecia compactuar muito com esse amor do baterista e apenas os mais antenados pareciam já conhecer essa face de Bruford, que por sinal não é nada recente.

Mas também, não é culpa do público, afinal na época do Yes, o estilo mais jazzístico do baterista estava sempre encoberto pelas orquestrações e teclados que dominavam a sonoridade da banda. Idem para o seu trabalho com o King Crimson, onde o baterista acabava meio escondido por inúmeras improvisações sombrias.

E foi para enfrentar esses "leões" defensores do Progressivo, alguns nada dispostos a ouvir o bom jazz do Earthworks, sua banda desde 86, que o bem humorado Bill Bruford subiu ao palco do Directv Music Hall. E venceu com facilidade, conquistando o coração e os ouvidos dos tais "leões" já na primeira música, a envolvente "Revel Without a Pause", faixa de seu trabalho mais recente o CD duplo, gravado ao vivo "Footlose & Fancy Free" (2002).

A surpreendente técnica de Bruford em solos fantásticos, deixou a platéia emocionada, criando ritmos muito sofisticados a partir de um kit de bateria que era a própria simplicidade. E apresentando uma sonoridade acústica de apelo irresistível que navegava ora pela "latinidad", ora por influências árabes e orientais com uma naturalidade que só é possível aos grandes virtuoses.

E virtuose é um termo que se aplica a cada um dos músicos da atual formação do Earthworks; composto por Steve Hamilton (teclados); Tim Garland (saxofones), Mark Hodgson (baixo acústico) e claro, Bill Bruford (bateria); o grupo em seus desesseis anos de carreira e com nove álbuns já gravados, está agora muito próximo de atingir a perfeição, nesta recente fase "sax-piano-baixo-bateria".

É claro que na hora do bis ainda restavam na platéia algumas pessoas, poucas é verdade, que continuavam a pedir com insistência que Bruford tocasse as músicas do Yes e do Crimson, mas para esses desavisados de plantão cabe fazer apenas uma pergunta: - Para que?

MARCUS VIANA - 27 DE JUNHO DE 2002 - DIRECTV MUSIC HALL - SP

O nome do músico Marcus Viana é ao mesmo tempo associado às trilhas sonoras das novelas na TV e ao seu trabalho com a banda "Sagrado Coração da Terra", que desde 1979 desenvolve o projeto de fundir rock sinfônico com textos orientados para questões ecológicas e espirituais, e hoje em dia é considerada pela crítica internacional como a melhor banda de rock progressivo da América Latina.

Maestro e multi-intrumentista, Marcus Viana desfila uma impressionante competência e sensibilidade musical cantando, no violino, piano, teclados e até mesmo no esraj, um instrumento oriental que se parece muito com uma cítara, mas é tocado utilizando-se um arco.

Para abrir sua apresentação em São Paulo, nada mais natural do que mostrar ao público do DirecTV Music Hall o sucesso mais recente, os temas de irresistível sonoridade árabe que ilustraram por meses a fio as belas cenas das locações marroquinas na novela das oito.
E acompanhando Marcus nessa primeira parte, a Transfônica Orkestra, com uma verdadeira "parede" musical criada por nada menos do que dez músicos em cena, o show começa com "Maktub", faixa título do CD que traz as músicas da trilha sonora da novela "O Clone".

A seguir, "Sob o Sol", o tema de abertura da novela todas as noites, foi interpretado por Malu Aires, paulistana, radicada em Belo Horizonte há cinco anos, prova que é acima de tudo uma intérprete de grande personalidade, não bastasse a belíssima voz, ao vivo, ela ainda mostra que tem muito carisma.

Já é um fato conhecido do público brasileiro a grande aceitação no mercado internacional que as novelas da Rede Globo têm. Com "O Clone" não poderia ser diferente e as versões em espanhol para os diversos temas da novela também figuram no setlist.

A apresentação seguiu mostrando também outras trilhas sonoras de sucesso, como "O Tango" da novela "Kananga do Japão" (da extinta Rede Manchete de Televisão), "Um Novo Século", belíssima peça instrumental escrita para a minissérie Chiquinha Gonzaga e o tema de amor da novela "Terra Nostra".
Logo após um breve intervalo, entram no palco os músicos da banda Sagrado Coração da Terra, formada por Lincoln Meirelles (teclados), Augusto Rennó (guitarra), Ivan Correa (contrabaixo), Eduardo Campos (bateria e percussão), Lúcio Gomes (contrabaixo), Danilo Abreu (piano) e Malu Aires (voz). A banda que foi criada em 1979 por Marcus Viana centrou seu repertório em seus dois álbums mais recentes, "A Leste do Sol, Oeste da Lua" e "Sacred Heart of Earth", uma coletânea de canções compostas em inglês e especialmente direcionada ao mercado internacional onde a banda tem um grande número de fãs.

O tema da novela "Pantanal" abriu a segunda parte, numa versão onde a guitarra de Augusto Rennó merece destaque. "Sweet Water" veio a seguir e depois, uma música nova, "Flores do Éden", que deve figurar no próximo álbum do Sagrado.

Para o final da apresentação, uma belíssima suite uniu "Rapsódia Cigana", "Central Sun of The Universe" e "Sob o Sol II", numa versão mais pesada que a original, com Malu Aires cantando em árabe.

E para fechar a apresentação, uma surpresa para o público do DirecTV Hall, o vocalista André Matos (Shaman) acompanha "O Sagrado Coração da Terra" na música "Terra", um clássico de Caetano Veloso que poucas vezes recebeu um tratamento tão especial quanto este do Sagrado. Sem dúvida um excelente final para uma noite de boa música.

A-HA - 15 DE AGOSTO DE 2002 - CREDICARD HALL - SP

Nos anos 80 eles agitaram as platéias brasileiras com uma sonoridade pop alegre e dançante e levaram milhares aos estádios numa tournê de muito sucesso.
Agora, depois de afastados da cena por sete anos, e onze anos após sua última passagem pelo Brasil, durante a segunda edição do Rock in Rio, o A-HA volta diferente, o pop alegre característico do grupo norueguês, deu lugar a uma sonoridade bem mais sombria e melancólica.

E é com esse repertório mais sombrio, mas também mais maduro, baseado nos dois álbuns mais recentes da banda "Minor Earth Major Sky" (2000) e "Lifelines", lançado em abril de 2002, que o A-HA chega a São Paulo para duas concorridas apresentações no Credicard Hall.

Mas os fãs mais antigos da banda não sairam frustrados, "I've Been Loosing You", logo no primeiro bloco do show, colocou um sorriso nos lábios dos saudosistas. Assim como os mega sucessos "Hunting High and Low" e "Take On Me" foram acompanhados com fervor por um público formado em sua grande maioria por antigos fãs do A-HA.

Uma outra novidade desta tourné é a presença de Anneli Drecker nos backing vocals, discreta durante quase toda a apresnetação, ela brilha quando assume o papel de solista na bela "Dark is The Night" e depois dividindo com Morten Harket o megahit "Stay On These Roads".

A excelente forma física e vocal de Morten Harket também chamam atenção, afinal depois de quase 20 anos de carreira, sua voz continua a mesma, mas os seus bíceps, estão muito mais malhados, como a platéia feminina do Credicard pode comprovar de perto.

E falando em continuar em forma, o A-HA apresenta também uma boa forma musical garantida pelos os teclados de Magnus Furuholmen. Magnus que por sinal, revelou-se um homem versátil e de muito bom gosto, já que são de sua autoria os painéis luminosos que serviram de cenário.

A guitarra de Pal Waaktaar, outra intituição da sonoridade do A-HA, também continua lá, firme, ajudando na construção das melodias.

"The Living Daylight", que já foi até tema de filme do 007, nos anos 80, aparece renovada por um inesperado reggae, e para fechar a noite "The Sun Always Shines On TV", mais uma boa lembrança de uma banda norueguesa que continua sendo muito querida no Brasil.

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Um comentário:

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