quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Um sociopata em Wall Street

 


É difícil enfrentar as quase 3 horas de exibição de "O Lobo de Wall Street" sem sentir algum grau de indignação. O novo longa de Martin Scorsese é incendiário e esquadrinha o mesmo mundo que Oliver Stone já tinha retratado tão bem em 1987 em seu "Wall Street - Poder e Cobiça", com seu vilão ficcional Gordon Gecko (Michael Douglas); mas com um agravante, Jordan Belfort (Leonardo Di Caprio) é um personagem real, protagonista de um grande escândalo financeiro que aconteceu durante a década de 90.

E embora a história seja real, o roteiro de Terence Winter consegue dar a ela um tom farsesco, com Belfort algumas vezes quebrando a quarta parede e dirigindo-se diretamente ao espectador.

Um jovem e ambicioso corretor da bolsa de valores que começa sua carreira em uma grande corretora de Wall Street, aprendendo com seu chefe Mark Hanna (Matthew McConaughey, simplesmente impagável), que os limites legais de seu trabalho são bastante relativos e que o importante de verdade na vida é conseguir colocar as mãos no dinheiro de seus clientes.
 
E quando a grande corretora em que trabalha o demite, em um dos escorregões da bolsa, ele não demora a perceber que pode ganhar muito mais, usando sua lábia de vendedor para empurrar para pequenos investidores, ações de baixíssimo valor.

Logo o negócio passa a ser tão lucrativo, que Belfort opta por expandi-lo, começando completamente por acaso, com Donnie Azoff (Jonah Hill), um vizinho que se demite imediatamente da loja de móveis em que trabalha após descobrir que Belfort tinha ganho 70 mil dólares em apenas um mês de trabalho.

Os dois criam uma equipe de corretores formada basicamente por pequenos traficantes, de moral duvidosa e, com eles, mais tarde, tomam de assalto a própria Wall Street, chamando atenção da mídia, que dá a Belfort o apelido de "Lobo de Wall Street" e do FBI, que passa a acompanhar bem de perto as atividades da empresa.

Com uma crueza que chega a impressionar, a câmera nervosa de Scorsese, combinada com uma boa trilha sonora, invade um universo de excessos sem limite.

Leonardo Di Caprio dá um show de interpretação, construindo meticulosamente um personagem que só pode ser descrito como um sociopata, alguém viciado além das drogas, na adrenalina de conseguir arrancar seus lucros às custas de trapaças diversas. Sempre a um passo do caricatural, mas encontrando o melhor tom de forma brilhante.

Aliás, o trabalho de todo elenco, individualmente e em conjunto é exemplar. Algumas cenas da equipe de Belfort trabalhando e/ou divertindo-se, só encontram paralelo em documentários sobre a vida animal.

E é mesmo uma pena que ele chegue para bater de frente, na disputa pelos prêmios da temporada, com filmes mais clássicos como "12 Anos de Escravidão" ou muito menos provocativos como "A Trapaça", apostas mais certas para a Academia de Hollywood, que costuma fugir dos excessos em suas escolhas.
 "O Lobo de Wall Street" é um filme memorável, imperdível e polêmico, como o cinema tinha obrigação de sempre ser.

O filme tem estreia agendada no Brasil para o dia 24/01/2014.

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