terça-feira, 10 de abril de 2007

Já foi muito difícil...


Quem hoje navega por aí, criando CDs "à la carte" ou assistindo a filmes que ainda nem receberam um título em português não tem a mínima idéia da dificuldade que seus pais tinham se quisessem apenas acompanhar o que era novidade.

Muito antes que as revistas de música se tornassem estes fantasmas online com pouquíssimo conteúdo e muita propaganda; aliás muito antes de qualquer coisa ser online, estar bem informado era obrigatoriamente ter nas mãos uma revista de música importada, inglesa ou americana e ir destrinchando e sonhando com coisas que ainda demorariam muito a ser lançadas por aqui, quando eram.

Isso porque já recebíamos estas revistas com pelo menos uns dois meses de atraso, mesmo assim, os lançamentos a que elas se referiam só dariam as caras uns 3 ou 4 meses depois, no mínimo.
As revistas nacionais usavam como fonte as revistas importadas e as novidades que elas relatavam já nem eram mais tão novas.

Não existia MTV, nem TV a cabo, tudo o que restava eram os jornais e a TV aberta, que não enxergavam o público jovem e por isso só se voltavam para o mundo da música quando acontecia algum escândalo, overdose, divórcio barulhento... enfim... quase nada de realmente útil para quem queria saber das novidades.

Os programas especializados, que começaram a aparecer timidamente no final dos anos 70, passavam os precursores dos videoclips, na verdade trechos de filmes ou apresentações ao vivo. A variedade era mínima e os programas acabavam repetindo os mesmo filmes muitas e muitas vezes.

Se as TVs não ajudavam, algumas rádios tinham um certo acesso a coisas mais novas e quando não estava acontecendo nada no "front" dos infinitos modismos (lambada, forró, sertanejo, Menudo) elas acertavam a mão e reproduziam a parada americana ou inglesa e assim começávamos a ter algum acesso por aqui a algo de novo.

O cinema então, nem se fala... lançamento simultâneo era impensável. Existia censura e alguns filmes chegavam mutilados às nossas salas, quando não se baixava algum decreto de último minuto e se proibia de vez a exibição.

Me lembro de pelo menos dois casos que deram muito o que falar e era negado aos brasileiros o direito de assistir a filmes como "O Último Tango em Paris" ou "Je Vous Salue Marie"; entre outros.

Depois de passar pelos cinemas, os filmes desapareciam, demoravam anos para chegar às locadoras; algumas mais descoladas, conseguiam cópias piratas de filmes mais novos e as distribuidoras eram tão lentas que víamos em VHS alguns filmes que só chegariam aos cinemas meses mais tarde.


A TV repetia incansávelmente filmes adocicados dos anos 50 e 60, até descobrir que dramas baseados em fatos reais e histórias de pessoas que tinham doenças graves davam audiência. Nem precisa dizer que este filão foi explorado até a exaustão.


O cinema nacional era quase inexistente, produzia-se apenas porno-chanchadas, documentários "cabeça", filmes políticos e os filmes singelos dos Trapalhões eram muitas vezes a única razão para se ir ao cinema pelo menos duas vezes ao ano; em Julho e Dezembro, quando eram lançados.


Enfim... morar no quintal do mundo até hoje tem seu preço, mas ele costumava ser muito mais caro.

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