quarta-feira, 14 de agosto de 2013

O Grande Gatsby de Luhrmann é acima de tudo um espetáculo visual




O que é uma adaptação literária senão a transformação de palavras em imagens? Neste sentido, talvez, "O Grande Gatsby" de Baz Luhrmann consiga alguma redenção ao transformar um dos maiores livros da literatura americana em um espetáculo, digamos, completamente dentro dos padrões de sua própria estética, o que significa excessos beirando a histeria e uma direção de arte suficientemente competente para nos fazer esquecer da falta de profundidade que pode ser aplicada a tudo o que vemos na tela, amplificada ainda mais pelo uso da tecnologia 3D.

O que não deixa de ser uma tremenda de uma ironia é que Luhrmann fez um filme tão superficial a partir de um livro que antes de mais nada, é uma crítica à superficialidade das elites e de seu hedonismo sem limites, correndo de vento em popa, na década de desbunde que separa o final da Primeira Guerra Mundial da Grande Depressão, em 1929.

Nick Carraway (Tobey Maguire) é um jovem corretor da bolsa de valores em uma efervescente Nova York da década de 20, recém chegado à cidade, ele aluga um pequeno chalé em Long Island, cercado entre os refúgios dos muito ricos, de um lado, os "nouveau riches", em toda a sua vulgaridade e do outro, as famílias tradicionais, fazendo questão de manterem-se distantes.

Um dos vizinhos de Nick é Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio), o misterioso dono de uma fortuna, que coloca a cidade em polvorosa com suas festas, monumentais para dizer o mínimo, que se diverte com os inúmeros boatos que circulam pela sociedade sobre sua origem e sobre as origens de seu dinheiro e se aproxima de Nicky, com objetivos inicialmente misteriosos, mas que logo vão sendo revelados, quando ele passa a servir de ponte para Gatsby reaproximar-se de Daisy Buchanan (Carey Mullingan).

A trilha sonora é um capítulo a parte e, mais uma vez, Luhrmann opta pelo anacronismo, usando fartamente o hip hop e o pop contemporâneo para substituir o jazz que fazia furor na década de 20; a trilha ficou nas mãos de Jay-Z e traz como destaque canções com Beyoncé e Lana Del Rey; sendo uma das responsáveis por bons momentos do filme, como o momento da "revelação" de Gatsby, durante uma festa, com "Rhapsody in Blue", explodindo nos alto-falantes, enquanto fogos de artifício colorem a tela.

O uso da música contemporânea não é exatamente um recurso inédito dentro do currículo do cineasta, mas já se provou bastante eficiente em filmes como "Romeu+Julieta" (96) e "Moulin Rouge" (2001).

E se esta adaptação do romance de Fitzgerald não consegue ir muito além do visual estonteante, o trabalho de todo elenco merece destaque.
Além dele, a reverência que Luhrmann demonstra pelo belíssimo uso das palavras do escritor, pode servir para ao menos despertar a curiosidade do público pelo livro e isso, francamente, já é alguma coisa.

Review publicado originalmente na Revista Eletricidade

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