Ontem, depois de colocar as coisas em ordem no meu site, que estava com diversos bugs, consegui ver um pouco do show de Santiago. O que eu vi, nos infinitos vídeos postados no Youtube, não dá para escrever uma crítica como se deve, mas já foi suficiente para perceber uma porção de coisas.
Primeiro, uma observação geral, nas turnês mais recentes da banda, o palco mais simples, sem tantas distrações, aumentou bastante o foco do público sobre a banda, mas também o foco da banda. Acho que nunca os tinha visto tocando melhor, concentrados mesmo no que estão fazendo no palco, ao mesmo tempo em que trocam entre si sorrisos e olhares que, do lado de cá, servem para lembrar que aqueles caras que estão ali, já estão juntos há quase 54 anos.
Sei que a cumplicidade entre os membros dos Stones é até um assunto batido, mas é um alívio, vê-los com os olhos brilhando e um sorriso nos lábios ainda maior, sem aqueles momentos tensos de algum tempo atrás, que aconteciam cada vez que Mick ou Keith acidentalmente aproximavam-se demais um do outro.
Agora não, cada um deles carrega um sorriso largo, até Charlie Watts, geralmente o mais ranzinza, dentro e fora do palco, parece muito mais relaxado. Assim, nesta apresentação que começa a nova turnê sulamericana da banda, todos parecem felizes e livres para mostrar toda a musicalidade que acumularam em tanto tempo de estrada.
Nesta época de crise (não se enganem, a crise econômica não é uma exclusividade dos brasileiros), os Stones optaram por reaproveitar o palco e os vídeos de abertura da Zip Code, com poucas mudanças, como as multicoloridas molduras, em volta dos telões e sobre o palco, que, em conjunto com a iluminação do show, deixam tudo ainda mais bonito de se ver.
Falando em beleza, continua impossível tirar os olhos de Mick Jagger durante toda a apresentação. Aos 72 anos, este senhor sobre o palco continua sendo o maior front man que este planeta já viu, ponto. Ninguém se move como ele e muito poucos têm a ousadia e a gentileza de conversar com o público, na língua do público, qualquer que seja ela.
E a voz? Continua lá, quase intacta, junto com os incríveis olhos azuis, que costumam brilhar no escuro... e não estou exagerando... Mick talvez deveria ser estudado pela ciência.
Para quem já os viu por aqui anteriormente, além do palco mais simples, existem duas mudanças bastante sensíveis no chamado "time de apoio" da banda; primeiro, após a morte do saxofonista Bobby Keys,em 2014, um dos músicos de apoio mais importantes e uma presença garantida no palco dos Stones desde a década de 70, agora substituído por Karl Denson. Outra ausência sentida nesta turnê sul americana, a vocalista Lisa Fischer, com compromissos de sua carreira solo, foi substituída por Sasha Allen.
E depois da performance impecável de ambos, os fãs talvez estejam mais aliviados ao perceber que os dois novatos estão a altura da tarefa difícil que receberam.
E já que falei bastante de Mick Jagger, na época da turnê "Steel Wheels", no início da década de 90, disse em uma entrevista que existe uma lista de canções que precisam fazer parte da setlist, ou as pessoas sairiam dos shows insatisfeitas, muito por conta disso, existem poucas "vagas" disponíveis na grade básica, para cavar mais fundo no baú gigantesco de raridades da banda e trazer para o palco coisas mais antigas e/ou obscuras. No Chile, estas vagas ficaram na mão de "Paint It Black" e "She's a Rainbow"; esta última escolhida através do voto dos fãs.
O set do Keith, aquelas 2 músicas em que Mick deixa o palco para um descanso rápido, e o guitarrista assume os vocais, desta vez teve "You Got the Silver"; uma raridade do disco "Led It Bleed" (69), que andava esquecida, mas que apareceu no repertório de "Shine a Light" (2008) e tem ido e vindo nas setlists da banda desde então. "Happy" já é uma presença bem mais comum no repertório da banda e costuma colocar aquele sorriso gigante no rosto dos velhos fãs.
A presença de "Out of Control" também é algo de positivo nesta setlist. Saída do disco "Bridges to Babylon" (97) a música foi bem recebida pelo público, que só entra verdadeiramente em "combustão" quando ouve os hits mais conhecidos.
Para nós, aqueles fãs que sonham em ouvir também aquele "lado B", as faixas que acabaram de fora da história da banda, não é fácil, mas é necessário lembrarmos que os shows dos Stones não são mais aquilo que nos fizeram amar a banda a primeira audição, naquele velho vinil que herdamos dos nossos pais ou avós; hoje em dia, essas apresentações são para um outro tipo de público, aqueles que provavelmente conhecem mais ou menos uma ou duas músicas dentro daquela grade de obrigatórias a que Mick se referiu na entrevista.
Pior ainda, aquele tipo de público que vai aos shows mais importantes apenas para mostrar aos amigos através das redes sociais. O preço salgado dos ingressos, infelizmente, provoca isso. A presença de "espectadores ostentação"; que, como turistas, pegarão fila, passarão horas de pé, ao seu lado, lá no estádio e você ainda os flagrará, de costas para o palco, gravando vídeos curtinhos, berrando nonsense a plenos pulmões, fazendo pose e até usando a camiseta da banda, mas sem sequer saber direito o que estão fazendo por lá... triste, né?
Confira o vídeo que os Rolling Stones postaram em seu canal oficial, gravado no Chile:
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