Se existe um disco que eu acredito lidera a lista dos que eu jamais conseguiria me separar, este disco é "Unledded - No Quarter", da dupla Jimmy Page e Robert Plant.
E como este disco está completando 20 anos de gravação, resolvi pesquisar um pouquinho sobre o assunto e o resultado é este post, escrito com muito amor por este trabalho que foi o maior responsável por eu ter me apaixonado pelo Led Zeppelin, "centenas de anos" depois do final da banda.
O ano era 1994 e Robert Plant fazia uma turnê de divulgação do seu disco "Fate of Nations" por aí, chegou até a passar pelo Brasil, durante o extinto festival "Hollywood Rock".
Um ano antes, em 93, ele criticava para quem quisesse ouvir o fato de Jimmy Page ter escolhido David Coverdale como vocalista para um novo trabalho, o disco "Coverdale Page", que, no papel, tinha um enorme potencial para fazer a carreira do ex-parceiro decolar novamente.
Mas na prática ficou muito aquém das expectativas e revelou-se um desastre logo de saída, quando os poucos shows da dupla, no Japão, se mostraram bem distantes do que se esperava. Dizem, em parte, pela insistência de David Coverdale de tentar cantar músicas do Led Zeppelin sem ter o material vocal necessário, provando definitivamente que as críticas que Plant fazia não eram assim tão sem sentido.
Mas do lado de Robert Plant, as coisas não íam tão bem assim, com a sua turnê do disco "Fate of Nations" fazendo muito menos sucesso do que ele esperava, a chegada de um convite da MTV, para realizar um "Acústico", pareceu um projeto que poderia ajudar a melhorar o panorama. Afinal, os tais programas tinham feito bem a carreira de muitos veteranos como Rod Stewart, Eric Clapton e Neil Young experimentaram verdadeiros renascimentos depois de lançarem seus acústicos.
Mas veio do empresário de Plant, Bill Curbishley, que na época também empresariava Jimmy Page, a ideia de trazer o guitarrista para o projeto.
O primeiro encontro entre ambos aconteceu ainda em 93 e Plant não foi para ele com as "mãos abanando"; levou algumas fitas com loops que tinha encomendado ao produtor francês Martin Meissonnier, especialista em música do Norte da África. Queria criar material novo ao lado do antigo parceiro e a partir dos coloridos sons árabes, os dois fizeram "Wah-Wah", "City Dont Cry" e "Yallah".
A outra música inédita, "Wonderful One" era uma balada romântica maravilhosa, mas encaixava-se melhor no catálogo anterior de criação da dupla, do que nesta nova onda de oriente-ocidente a que Plant tentava dedicar-se no momento.
Estava começando a acontecer a coisa mais próxima de uma reunião do Led Zeppelin, que Robert Plant permitiria que acontecesse nos anos que vieram depois do final trágico da banda em 1980. Fugindo da sombra da banda, Plant aceitou recriar muitas músicas do repertório do Zeppelin para o "Acústico", mas respondeu com um sonoro "não" a sugestão de Page de trazer John Paul Jones.
Os dois artistas retomaram o trabalho em abril de 94 e passaram a ensaiar, depois de participarem juntos em um show em homenagem a Alexis Korner.
Aos dois, se juntaram o baixista Charlie Jones e o baterista Michael Lee, que faziam parte da banda que vinha acompanhando Plant em sua turnê solo. O tecladista Ed Shearmur veio em seguida e Hossam Ramzy, um percussionista e compositor egípcio também foi recrutado e ele foi buscar na cena londrina de clubes de música árabe, os músicos que fariam parte de seu "Egyptian Ensemble".
E já que o "tempero" que Plant buscava era árabe, nada mais adequado do que escolher a música "Kashmir" para começar o trabalho de adaptação das músicas do Zeppelin a uma nova sonoridade, que as tornasse mais uma vez interessantes para o vocalista desejar novamente cantá-las.
Nos ensaios, ele era claramente o líder, tanto chamando mais músicos para o projeto como o guitarrista do "The Cure", Porl Thompson e Nigel Eaton e seu hurdy gurdy, um instrumento popular durante a Renascença que fez toda a diferença na nova versão que a banda apresentou para a música "Gallows Pole".
A cantora britânica, de origem indiana Najma Akhtar foi escalada por Plant para recriar o dueto da música "Battle of Evermore".
Plant tomou a frente de tudo durante os ensaios feitos no andar de cima de um Pub, próximo de onde ele vive, e seguiu dando as cartas nas gravações, no início do mês de agosto, primeiro em Marrakech, no Marrocos e na semana seguinte em Snowdonia, no País de Gales.
A gravação do programa aconteceu em três apresentações, em um estúdio de TV em Londres nos dias 24, 25 e 26 de agosto de 1994. A London Metropolitan Orchestra também participou do trabalho e o resultado foi para o ar, na MTV, no dia 12 de Outubro de 1994.
No Brasil, o Unledded foi apresentado pela primeira vez no dia 17 de Novembro de 1994, com direito a uma curta visita de Page e Plant ao Rio de Janeiro para a divulgação do lançamento.
Em 2004, comemorando os dez anos de lançamento do disco, um DVD com o show apresentado pela MTV trazia ainda algumas faixas que tinham ficado inéditas, como a maravilhosa versão para "The Rain Song", tão definitiva para a música, quanto a impecável e emocionante "Kashmir", que encerra a apresentação.
Não importa o que fizeram depois e até mesmo a reunião de 2007, nada chega perto da sensação de ver estes dois gênios da música trabalhando juntos e revendo obras tão lindas como "Thank You", em um momento em que ambos estavam ainda no ápice.
Posso ficar aqui por horas descrevendo o disco e o DVD, mas acredito que nada substitui a experiência de assisti-lo, de preferência com todas as luzes apagadas e com um bom incenso de sândalo queimando por perto. Ah... o som tem que estar no talo.... Recomendadíssimo....
No Quarter - Page & Plant (1994)
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